sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A última resposta

Depois do teu email com a despedida da praxe, ainda pensei se deveria ou não responder-te, ou seja, no fundo, se deveria ou não retribuir-te a despedida. E como, por muito que me irrite, sou incapaz de não responder, lá escrevi uma última resposta em que coloquei apenas "Beijo".

Quando o fiz, tinha plena consciência de que a próxima vez que iria saber de ti estava ainda muito distante. Como estávamos perto do final do ano admiti que antes disso, ou talvez por altura do Natal, ainda me enviasses um email, desejando-me um Feliz Natal ou um Bom Ano, mas com a certeza, porém, de que se tu não o fizesses não seria eu a tomar essa iniciativa.

Tinha-me custado muito a decisão de cortar radicalmente contigo. Ao princípio, ainda pensei que podíamos trocar uns emails, fazendo conversa de circunstância, perguntando pela vida um do outro, pelos filhos.... mas se esse era sempre o meu plano, tu desafiavas-me sempre para mais. Não só para mais, mas para muito mais do que podíamos e ainda muito mais do que devíamos. Querias ver-me. Querias tocar-me. Querias ter-me. E não dava para mantermos um almoço de amigos. A conversa era boa, aliás, muito boa. Trocávamos imensas ideias, tínhamos uma forma tão semelhante de ver a vida, apesar das nossas imensas diferenças. Esta simbiose tornava-se fatal. Olhavas-me nos olhos de uma forma que me deixava completamente sem rede. Apanhavas a minha mão e apertavas com força, como se tivesses medo que eu fugisse de ti.

Apesar de tudo, não me consigo arrepender de tudo por que passámos. Sabes que ainda um destes dias passei mesmo em frente ao local onde nos encontrámos pela primeira vez, agora neste segundo capítulo da nossa breve história - e porque não dizê-lo - de amor. Se te disser que senti "aquela" impressão no estômago, sei que sabes do que estou a falar. Estava no carro e olhei em particular para o local onde estacionei o carro e onde esperavas, de mãos nos bolsos do teu casaco de cabedal castanho, que eu saísse. Deste uma moeda ao arrumador, tiraste as mãos dos bolsos e abraçámo-nos, como dois amigos que já não se vêem há muito tempo.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Não era bem aquilo que esperavas

Depois de, no fundo, teres aberto o teu coração e teres admitido que te deu vontade de saber de mim, esperavas, talvez, da minha parte um "Que bom, também andava cheia de vontade de saber como estavas." E noutros tempos seria, por certo, essa a minha resposta.

Assim, quando recebeste aquele "Não esperava..." ficaste desiludido e apenas conseguiste responder-me "Ficaste triste?", ainda na esperança de que esta palavra - triste - fizesse soar em mim uma campainha, fizesse acordar o meu sentimento de que não queria desiludir-te, não queria que pensasses que não eras importante para mim.

Nos minutos que passaram até receberes a minha resposta não conseguiste fazer nada. O telefone continuava reencaminhado para a tua assistente e o telemóvel começou a vibrar ao teu lado. Olhaste para ele, viste quem era e imediatamente o pousaste, sem tirar os olhos do écran do computador. De repente, ele chega, o meu email... "Não.. Fiquei apenas surpreendida."

Surpreendida. A palavra ecoou no teu cérebro. No fundo, sabias que merecias esta resposta. Afinal, quem é que tinha decidido não arriscar, não seguir o coração, não viver intensamente a vida, não tentar ser feliz? Sabias que as saudades que sentias, o aperto que tinhas no peito, a vontade de me ver, tudo isso era apenas uma consequência dos teus actos, da tua cobardia. Ainda assim, não quiseste deixar de demonstrar que, para ti, tudo continuava na mesma, ou seja, tinhas saudades, sim, gostavas de mim, sim, sentias imenso a minha falta, pois sentias, mas.... Por isso, com um leve sorriso nos lábios e com os olhos húmidos escreveste "Foi só uma crise de saudades", frase à qual resolveste retirar o ar solene e trágico colocando à frente um "smile". "Fica com um BEiJO". Não um beijo, ou um BEIJO, mas um BEiJO, de modo a torná-lo especial, único. E por fim, dando por terminada a conversa que tinhas iniciado, rematas com "Vou para uma reunião".

Nestas fase, já não tens a certeza se te irei responder. Ainda te lembras como eu detestava a forma como punhas fim às nossas "conversas" por email...


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Recebi o teu email

Estou a fazer um relatório que comecei a semana passada e que me tem demorado mais a terminar do que aquilo que esperava quando o comecei. Mas depois de uns dias de avanços e recuos está finalmente a avançar e pareço ter encontrado o rumo certo. Estou inspirada e as palavras saem-me com a fluidez que me tem faltado nesta última semana. Alterno entre o documento de word em que estou a trabalhar e duas ou três páginas da Internet em que bebo informação mais geral e que está a enriquecer o meu discurso. Estou a reler uns parágrafos mais importantes do trabalho quando surge um balão do lado inferior direito do écran do meu computador, a avisar da chegada de um email. Já tinham aparecidos inúmeros balões daqueles naquela manhã, aos quais não prestei atenção particular, guardando para depois a consulta dos emails. Contudo, não sei porquê, para aquele balão eu olhei. E vejo nele o teu nome.

Sinto imediatamente um aperto. No peito, na barriga, algures entre os dois, enquanto o balão desaparece suavemente. À medida que o meu cérebro orienta o rato para fazer o clique no botão que maximiza o Outlook penso: "Mas eu tinha-lhe dito para não me escrever mais. Deve ter acontecido alguma coisa. Terá morrido alguém? Será que se separou da mulher?"

Abro o email e leio o teu olá e o teu bom dia. Iguais aos que me costumavas enviar quando nos escrevíamos todos os dias, quando querias iniciar comigo uma "conversa" que tanto podia acabar em meia dúzia de emails, mais casuais, mais frios, como podia durar todo o dia, com gracinhas, provocações, massagens ao ego, mimos e beijos, muitos beijos, em vários tamanhos e às vezes até em várias cores. 

Não decido logo que te vou responder. Quer dizer, decido que provavelmente te vou responder, pois preciso de saber se se passa alguma coisa. Escrevo "Olá, bom dia.... Está tudo bem?", esperando que do outro lado entendas as reticências como "porque é que me estás a escrever, depois de te ter pedido expressamente para não o fazeres?". 

Respondes, logo de imediato e afinal não se tinha passado nada. Deu-te "vontade de saber como eu estava".

Ah pois, não aguentaste, pensei. 

Mas mesmo assim, continua tudo na mesma. Aguentas estar casado com uma mulher que não amas, em prol de umas bodas de prata a ser celebradas em família, com os filhos que não aguentas desiludir, embora apaixonado por outra pessoa que tens a certeza ser a mulher da tua vida. Este pensamento dá-me a força necessária para te devolver um frio e singelo "Estou bem. Não esperava...".


terça-feira, 19 de novembro de 2013

Eu sei exactamente o que estás a fazer agora

Estás sentado à tua secretária. Do teu lado direito tens um telefone, com uma luz vermelha a piscar, com a indicação de que não queres ser incomodado. Todas as chamadas serão reencaminhadas para a tua assistente. 

Mesmo ao pé do telefone está uma pilha de documentos encadernados com argolas, uns fechados, outros abertos, em esforço, pois as argolas são demasiado pequenas para a quantidade de folhas que suportam. Uma dessas encadernações, a da capa azul celeste com letras pretas, tem as três argolas de baixo partidas, que constantemente tentas encaixar, em vão. 

Do teu lado direito tens o telemóvel, um Samsung que compraste há quase seis meses, que repousa sobre a tua carteira preta, de pele, que a tua mulher te ofereceu no Natal passado. 

Olhas para o écran do teu computador e os teus olhos deslocam-se pelas imagens que ali aparecem. Estás a ver as minhas fotografias. Nunca tirámos fotos juntos. Mas tens muitas fotos só minhas, daquelas que eu enviava quando te queria provocar e lembrar-te o que estavas a perder por não estares comigo. Uma foto minha a mandar um beijo. Uma foto minha em biquini, no Brasil. Uma foto só com os meus olhos. Outra foto quando eu estava na piscina, de cabelo molhado, de sorriso rasgado, aquele que sempre disseste que adoravas. Olhas para as fotos, passas com o rato na seta seguinte e vês, uma a uma, todas as fotos, todos os pormenores. Recordas os nossos momentos, as nossas gargalhadas, as nossas cumplicidades. Lamentas não me poderes ter. Lamentas, afinal, que a vida não seja perfeita, e isto já sou eu a dizer. 

Estás com muitas saudades minhas, a ponto mesmo de ignorar o ultimato que te fiz há dois meses para que não me escrevesses ou procurasses mais. Escreves um email para me enviar. "Olá, bom dia, estás bem?". Apagas o email. Voltas a escrevê-lo. Levantas-te e vais tomar um café. Pode ser que te passe a vontade de enviar o email; afinal sempre foste tão racional... Bebes o café enquanto conversas na copa com uma colega mais velha que sempre me disseste que te achava muito giro. Conversas com ela, mas não te consegues esquecer de mim. Acabas o café, despedes-te da tua colega, que aproveita e te faz mais um piropo, e voltas para a tua secretária.  

Olhas para o email. O meu nome ali... queres saber de mim. Envias o email. E esperas. Nervoso. Inquieto. "Será que ela vai responder? Qual vai ser a reacção?"