quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Recebi o teu email

Estou a fazer um relatório que comecei a semana passada e que me tem demorado mais a terminar do que aquilo que esperava quando o comecei. Mas depois de uns dias de avanços e recuos está finalmente a avançar e pareço ter encontrado o rumo certo. Estou inspirada e as palavras saem-me com a fluidez que me tem faltado nesta última semana. Alterno entre o documento de word em que estou a trabalhar e duas ou três páginas da Internet em que bebo informação mais geral e que está a enriquecer o meu discurso. Estou a reler uns parágrafos mais importantes do trabalho quando surge um balão do lado inferior direito do écran do meu computador, a avisar da chegada de um email. Já tinham aparecidos inúmeros balões daqueles naquela manhã, aos quais não prestei atenção particular, guardando para depois a consulta dos emails. Contudo, não sei porquê, para aquele balão eu olhei. E vejo nele o teu nome.

Sinto imediatamente um aperto. No peito, na barriga, algures entre os dois, enquanto o balão desaparece suavemente. À medida que o meu cérebro orienta o rato para fazer o clique no botão que maximiza o Outlook penso: "Mas eu tinha-lhe dito para não me escrever mais. Deve ter acontecido alguma coisa. Terá morrido alguém? Será que se separou da mulher?"

Abro o email e leio o teu olá e o teu bom dia. Iguais aos que me costumavas enviar quando nos escrevíamos todos os dias, quando querias iniciar comigo uma "conversa" que tanto podia acabar em meia dúzia de emails, mais casuais, mais frios, como podia durar todo o dia, com gracinhas, provocações, massagens ao ego, mimos e beijos, muitos beijos, em vários tamanhos e às vezes até em várias cores. 

Não decido logo que te vou responder. Quer dizer, decido que provavelmente te vou responder, pois preciso de saber se se passa alguma coisa. Escrevo "Olá, bom dia.... Está tudo bem?", esperando que do outro lado entendas as reticências como "porque é que me estás a escrever, depois de te ter pedido expressamente para não o fazeres?". 

Respondes, logo de imediato e afinal não se tinha passado nada. Deu-te "vontade de saber como eu estava".

Ah pois, não aguentaste, pensei. 

Mas mesmo assim, continua tudo na mesma. Aguentas estar casado com uma mulher que não amas, em prol de umas bodas de prata a ser celebradas em família, com os filhos que não aguentas desiludir, embora apaixonado por outra pessoa que tens a certeza ser a mulher da tua vida. Este pensamento dá-me a força necessária para te devolver um frio e singelo "Estou bem. Não esperava...".


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