terça-feira, 19 de novembro de 2013

Eu sei exactamente o que estás a fazer agora

Estás sentado à tua secretária. Do teu lado direito tens um telefone, com uma luz vermelha a piscar, com a indicação de que não queres ser incomodado. Todas as chamadas serão reencaminhadas para a tua assistente. 

Mesmo ao pé do telefone está uma pilha de documentos encadernados com argolas, uns fechados, outros abertos, em esforço, pois as argolas são demasiado pequenas para a quantidade de folhas que suportam. Uma dessas encadernações, a da capa azul celeste com letras pretas, tem as três argolas de baixo partidas, que constantemente tentas encaixar, em vão. 

Do teu lado direito tens o telemóvel, um Samsung que compraste há quase seis meses, que repousa sobre a tua carteira preta, de pele, que a tua mulher te ofereceu no Natal passado. 

Olhas para o écran do teu computador e os teus olhos deslocam-se pelas imagens que ali aparecem. Estás a ver as minhas fotografias. Nunca tirámos fotos juntos. Mas tens muitas fotos só minhas, daquelas que eu enviava quando te queria provocar e lembrar-te o que estavas a perder por não estares comigo. Uma foto minha a mandar um beijo. Uma foto minha em biquini, no Brasil. Uma foto só com os meus olhos. Outra foto quando eu estava na piscina, de cabelo molhado, de sorriso rasgado, aquele que sempre disseste que adoravas. Olhas para as fotos, passas com o rato na seta seguinte e vês, uma a uma, todas as fotos, todos os pormenores. Recordas os nossos momentos, as nossas gargalhadas, as nossas cumplicidades. Lamentas não me poderes ter. Lamentas, afinal, que a vida não seja perfeita, e isto já sou eu a dizer. 

Estás com muitas saudades minhas, a ponto mesmo de ignorar o ultimato que te fiz há dois meses para que não me escrevesses ou procurasses mais. Escreves um email para me enviar. "Olá, bom dia, estás bem?". Apagas o email. Voltas a escrevê-lo. Levantas-te e vais tomar um café. Pode ser que te passe a vontade de enviar o email; afinal sempre foste tão racional... Bebes o café enquanto conversas na copa com uma colega mais velha que sempre me disseste que te achava muito giro. Conversas com ela, mas não te consegues esquecer de mim. Acabas o café, despedes-te da tua colega, que aproveita e te faz mais um piropo, e voltas para a tua secretária.  

Olhas para o email. O meu nome ali... queres saber de mim. Envias o email. E esperas. Nervoso. Inquieto. "Será que ela vai responder? Qual vai ser a reacção?"

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